13: Sinal
ESCRITO POR DANIEL MANNING
PRODUZIDO POR MISCHA STANTON
TRADUZIDO POR JÚLIA OLIVEIRA
[EN]
[gravador de fita liga]
JOHN BEVERLY (JB): Olá, aqui é John Beverly, ligando do Serviço de Mensagens Rapidinho, Inc. Tenho uma mensagem para você de um… Anthony Partridge.
[mensagem de voz rebobina]
SALLY GRISSOM (SG): Não pode ser…
JB: Olá, aqui é John Beverly, ligando do Serviço de Mensagens Rapidinho, Inc. Tenho uma mensagem para você de um… Anthony Partridge–
[mensagem de voz rebobina]
SG: Mas eles disseram…
JB: –do Serviço de Mensagens Rapidinho, Inc. Tenho uma mensagem para você de um… Anthony Partridge–
[mensagem de voz rebobina; gravação distorce]
JB: –uma mensagem para você de um… Anthony Partridge–
[mensagem de voz rebobina; gravação distorce]
JB: –uma mensagem para você de um… Anthony Partridge–
[rádio sintonizando]
SG: –Eu não conseguia acreditar! Pensei que nunca mais ouviria a voz de Partridge, mas... aqui está a mensagem. Foi um truque? Uma pegadinha? ‘Tou ficando louca? Provavelmente a última, mas, se podia me comunicar com Partridge de novo, precisava ir até o fundo.
[rádio sintonizando]
SG: Oi, meu nome é Sally Grissom, e acho que recebi uma mensagem de vocês mais cedo? ... Não, não “acho”. Recebi uma mensagem de vocês. Bom, preciso saber quem enviou ela… É a única mensagem mandada pra esse número. Bom, se não for um incômodo muito grande, eu... Alô? Você desligou na minha cara?
[Sally bate o telefone]
SG: Merda!
[telefone toca; Sally atende]
SG: Alô? Oi, eu… acabei de ligar pra você– você tem?
[Sally pega caneta e papel]
SG: Posso mandar uma mensagem pra ele? Pode me dar o... número do telégrafo dele? Endereço telegráfico? Hm... o troço… de código… Morse? Deixa… eu… só…escrever… isso. OK, pronto. Obrigada!
[rádio sintonizando]
ANTHONY PARTRIDGE (AP): Graças a Deus, ela recebeu a mensagem. Demorou dezoito meses para recebê-la. É claro, na minha agenda, mandei cerca de onze minutos atrás, mas estava ficando preocupado. Metade de mim esperava que ficasse definhando na Secretáriatron dela sem ser ouvida para sempre. A outra metade sabe que sou um gênio, e que ela eventualmente a descobriria. É bem difícil programar um sinal para fora da Sala Escura em código Morse, como algum tipo de piada cósmica distorcida, e infiltrá-lo naquele serviço, mas a pôs onde precisa estar. Vamos ver se conseguimos tirar algo disso.
SG: E então, pela primeira vez em dezoito meses, Partridge e eu pudemos trocar pequenos cumprimentos. Por telegrama. Eu mandei “OLÁ MUNDO” e ele–
AP: Então, ela me manda “OLÁ MUNDO”, e não faço ideia do que quer dizer, então mando de volta–
SG: –E ele me manda “Oi mundo, é o Anthony” de volta.
AP: E ela diz “Eu sei, seu idiota”. Isso me deu uma esperança que não sentia desde cheguei aqui.
SG: –E progredimos indo e voltando desse jeito. Temos que trabalhar nesse receptor, fazer com que Partridge possa mandar mais do que pontos e traços daquela bolha fodida em que está... mas é difícil nos comunicar direito assim.
AP: Já trabalhou com alguém que está a vários fusos horários de distância? Meio que parece com o que eu e Sally temos que lidar, só que com uma pessoa no Fuso das Montanhas Rochosas e a outra em um vácuo sem tempo e sem sentido. É um pouco difícil conversar. Especialmente considerando–
SG: Sempre que recebo algo dele, não tenho ideia de quanto tempo faz. Recebi uma resposta que dizia “DESCULPA PELO ATRASO DE DUAS SEMANAS” menos de dez segundos depois de mandar a mensagem original. É tudo tão delicado, comigo estando no tempo real e ele... quando quer que esteja.
AP/SG: É tão bom ter algo para fazer de novo....
SG: Desde que parei de trabalhar pra ADRA, depois do meu acidente, sentia que tinha perdido uma parte de mim.
AP: Quando se está em um lugar como este, é como se você fosse uma garrafa enrolhada esperando para explodir.
SG: Eu ‘tava perdida. Incapaz de fazer o trabalho que tem definido minha vida por quase uma década.
AP: Falar com Sally de novo, trabalhar juntos neste transceptor, apesar de eu estar tão total e completamente distante... está me lembrando do porquê concordei em fazer isso em primeiro lugar.
SG: Não fosse a Timepiece, não fosse essa física estranha, eu só estaria presa num século com mais reprises e calças menos confortáveis.
AP/SG: Quer dizer, ela/ele ainda está melhor que eu...
AP: Ela pode viver! Como todas as pessoas!
SG: Ele pode assistir ao resto do século XX se desenrolar de uma vez só, e eu tenho que esperar enquanto os jornais gotejam da torneira com vazamento da história.
AP: Sei que esta é a sentença para o meu crime. E erros eu cometi de sobra, Deus sabe, mas...
SG: Não tenho nenhuma família aqui! E meus todos os amigos se foram...
AP/SG: Só sinto tanta solidão.
AP: Fazer isso me deu fé de novo, deu a força de vontade para completar a missão.
SG: Minha cabeça ‘tá tão confusa desde que acordei... mas sinto que esse pequeno desafio ajudou meu cérebro a se reerguer. Nos pezinhos de cérebro dele.
AP: Trabalhamos por semanas, o que é muito para mim.
SG: Levou um mês, por aí, pra construirmos a coisa, e eu tive que canibalizar minha secretária eletrônica pra conseguir. Sinto muito, Secretáriatron, vou te reconstruir em breve!
AP: Sally teve uma ideia sobre um telefone sem fio, mas suspeito que não foi ideia dela.
SG: Então, basicamente peguei um pouco do que sei sobre como celulares funcionam, juntei com minha secretária eletrônica e usei o mesmo tipo de design de retransmissão que usam na Sala Escura pra transmitir mensagens. Agora Partridge tem sua própria secretária eletrônica temporal!
AP: Não entendi 100% da explicação dela, mas acho que me permitirá gravar mensagens telefônicas que ela poderá atender. Tenho confiança de que ela acertou os cálculos.
SG: Não tenho ideia se meus cálculos estão certos, mas deve funcionar. Só preciso de uma antena que exista agora e em 1943. O que quer dizer que preciso de um atlas, um catálogo e uma viagem pra Filadélfia. Todas coisas que eram obsoletas no meu tempo. Exceto a Filadélfia. Não tenho nada contra você.
[rádio sintonizando; sons de um avião em voo]
SG: Então, como você provavelmente pode ouvir, encontrei minha rota pra Filadélfia. Eu ‘tava conversando com a Roberts, quando ela me contou sobre um problema...
[rádio sintonizando; jantar]
ER: –Então recebo uma ligação deles, e a falha era na verdade uma parte intencional no processo de produção!
SG: ‘Cê ‘tá de brincadeira.
ER: Minha equipe passou dias procurando erros para baixo e para cima– você devia ver os cortes de papel cobrindo as mãos de Pitt– e eles são os culpados. Agora, por causa do erro deles, tenho que ir a Nova York para inspecionar a linha de produção inteira, porque não quero ver outro computador de 100.000 dólares ir parar no lixo. E certamente não confio neles para consertarem a coisa sozinhos.
SG: Posso ir?
ER: … Para inspecionar a linha de produção?
SG: Não, não ligo pra isso. ‘Tou falando, tipo, ir pra Nova York. Com você.
ER: Comigo?
SG: Ai meu Deus, eu preciso sair dessa cidade, é tão entediante!
ER: … Tem certeza? Não vou fazer um passeio extravagante pela Broadway. Vou ficar lá por 72 horas, no máximo, e você vai ficar sozinha. Passeios turísticos podem ser bem cansativos, tem certeza de que aguenta?
SG: Posso ir?!
[rádio sintonizando; avião]
SG: –E foi assim que eu convenci a Roberts a me deixar vir com ela numa viagem à trabalho. A Filadélfia é a cerca de duas horas de Nova York, pelas minhas contas. Tenho que escapar dela (não deve ser difícil), alugar um carro, dirigir até lá, invadir uma estação de rádio, prender esse transmissor no topo da antena... mamão com açúcar, né? Mas bom, agora ‘tou num banheiro de avião fumando um cigarro e segurando um rádio-celular temporal confidencial feito em casa. Chupa, TSA!
[Sally dá um trago desafiador]
SG: Acho que essa folga vai ser boa pra clarear a minha mente. A última vez que tive férias, tinha cinco de nós, e eu não ‘tava escondendo o meu diário da provavelmente única pessoa em um raio de mil quilômetros que poderia chamar de amiga. Bom, tem Whickman, mas... as coisas eram tão mais fáceis naquela época, antes de eu passar um ano e meio em coma e todo mundo ou ir embora ou morrer...
Estou com medo, sabe? Não sei se conheço a Roberts mais. Não sei se posso confiar nela mais. Ela é parte dessa máquina secreta enorme, e não consigo dizer onde a lealdade dela está. Isso foi sempre verdade? ‘Tou deixando alguma coisa passar? Nunca consigo dizer o que passa pela cabeça dela. Tipo, não acho que ela me deixaria pra morrer numa sarjeta, mas, quando teve que escolher entre o trabalho e o melhor amigo, escolheu o trabalho. Como ela se sentiu sobre isso? Sobre não ir com Wyatt? Posso perguntar, certo? Posso perguntar pra ela como se sentiu? Não gosto dessa coisa toda de lidar com as emoções dos outros...
Roberts é um enigma. Quer dizer, sempre foi. Provavelmente é por isso que é perfeita pra esse tipo de trabalho. Mas, sabe, isso torna difícil ser amiga dela de vez em quando. Você conversa com ela, e vivencia uma Interação Normal Agradável e Genuína de Esther Roberts, mas nunca sabe se ela é agradável naturalmente de verdade, ou se só sabe fingir bem.
Sequer importa, no fim das contas? Não sei, mas por que ‘tou escondendo esse receptor dela? Você acha que ela sabe sobre o meu plano? Sinto que não posso mais confiar nela como confiava dois anos atrás–
[batida na porta]
Passageiro: Com licença, senhorita?
SG: Só um minuto.
Passageiro: Você está aí há–
SG: Só um minuto! [rápido] ... Confiar nela como confiava dois anos atrás, mas não sei se isso é verdade mesmo ou só estou projetando minhas aflições numa pessoa que cresceu e mudou sem mim. OK, tchau.
[rádio sintonizando; Sally e Esther entram no quarto do hotel]
SG: Ugh, deixa eu tirar essa… coisa!
[Sally tira a roupa]
ER: Gosto de me arrumar para viajar de avião. Tenho a oportunidade de me sentir chique.
SG: Você diz isso agora. Só espere algumas décadas, e vai estar implorando pra usar suéter e jeans.
ER: Jeans?
SG: … Calças de denim. Tanto faz.
[Sally senta na cama]
SG: Então, quando vai dar uma bronca naquele povo?
ER: Tenho uma reunião preliminar com eles daqui algumas horas. Tem certeza de que consegue se virar sozinha enquanto estou fora?
SG: Sério, Roberts? Sou uma adulta, não um cachorrinho.
ER: Eu me preocupo com você, Sally. Ainda estou com medo de lhe perder de novo.
SG: Porque posso acabar batendo as botas? Ou porque não seria mais um recurso valioso?
ER: Você ficou mal, Sally. Ninguém tinha certeza, no primeiro mês, se você ia sobreviver! E aí... aí pensamos que talvez nunca acordasse.
SG: Eu não–
ER: Eu sei que não foi sua culpa. Quer dizer, não foi, certo?
SG: [dar de ombros ambíguo]
ER: Não quero passar por isso de novo. Não quero que você passe por isso de novo.
SG: Obrigada.
ER: Agora, tem certeza que não tem...
SG: Não! Quero ir à Times Square antes de ficar coberta de propagandas.
ER: Bom, meio que já está...
SG: Eu vou ficar bem! Pode ir lá acabar com um gerente incompetente ou cinco. Nem vai perceber que não estou aqui.
ER: OK, se você tem certeza. Cuide-se.
[Esther sai; Sally pega o telefone e disca]
SG: Olá, sim. Eu gostaria de alugar um carro? ... Sim, se puder.
[rádio sintonizando; à beira de uma estrada movimentada]
SG: 27 de outubro de 1949, parte dois. ‘Tou a quinze quilômetros da cidade, aprontando tudo pra... o que quer que eu esteja planejando. O transceptor ‘tá no porta-malas, e vou levar ele pra uma estação que encontrei no catálogo a alguns quilômetros do Estaleiro Naval. O indicativo de chamada é “W.H.A.T’, o que me deixa feliz pra caramba.
Ah! Ah! Comprei uma coisa antes de sair de Nova York! Isso! … É mesmo, não dá pra você ver. São ferramentas pra abrir fechaduras. Comprei um kit abridor de fechaduras na cidade. Agora, posso estar um pouco enferrujada, mas fiquei muito boa em arrombar portas quando era uma adolescente dramática que pensava que isso me tornaria misteriosa e descolada... mas na verdade só reafirmou que eu era uma nerd gigante. Tinha um daqueles cadeados de prática, feitos de acrílico pra dar pra ver tudo por dentro! Uma viva pra um pouco de arrombar e invadir! Quer dizer, hm... Não vou cometer um crime, isso seria…
Eu devia ser um pouco mais cuidadosa com o que digo nessas coisas.
Mas vou ser? Provavelmente não.
[rádio sintonizando]
ER: Como eu disse, a gravação é uma formalidade. Só a quero para as minhas anotações.
Gerente de Planta (GP): Claro, Senhorita Roberts!
ER: Vamos começar, então?
GP: Claro!
[fita acelera]
GP: O oleoduto passa por aqui. E aqui é onde o zinco adicional de que você falou estava sendo adicionado ao lote.
ER: E vocês fazem isso intencionalmente?
GP: Bom, sim! Com isso, podemos substituir um terço do alumínio por zinco e devolver essa economia a vocês com uma redução de apenas seis porcento na resistência geral.
ER: Não estou pagando vocês para entregarem menos seis porcento dos meus pedidos. Vão substituir essa parte do oleoduto.
GP: Claro, claro. Estamos comprometidos a fornecer ao Sr. Whickman tudo que ele precisar. Pode falar com o seu chefe que ele pode ficar tranquilo sobre os pedidos futuros, Senhorita Roberts–
ER: –Você não está trabalhando para o Sr. Whickman, Sr. Maharis, está trabalhando para mim. Não se esqueça.
GP: Hm… sim, senhora.
ER: Eu poderia ter contratado outra empresa, e escolhi vocês em vez da concorrência. Não me faça me arrepender. Não tolerarei incompetência como essa questão do oleoduto de novo– está claro?
GP: Sim, senhora! Hm, obrigado, senhora. Sinto muito pela inconveniência.
ER: Obrigada. Agora, você poderia me dizer onde uma garota pode encontrar um coquetel forte por aqui?
[rádio sintonizando; no topo da torre de rádio]
SG: Então, aqui estamos nós. Na miríade das vezes em que fiquei em perigo durante essa coisa toda, nunca fui desafiada por algo tão mundano quanto uma queda. Mas, já que estou em falta de tanto equipamento de segurança como paciência, vou fazer o que posso com o que tenho.
Essa torre é… alta. Tipo, alta nível arranha-céu. Eu devia reconsiderar, provavelmente, mas, quando Sally Grissom bola um plano, ela vai até o fim com ele. Vou escalar essa torre, ligar o transceptor, e aí... vem a crucial descida. Assumindo que não serei um montinho de ossos quebrados no chão nessa hora, ainda vou estar viva! E, no evento desse milagre, devo ser capaz de ligar pra 215-████ e mandar uma mensagem de voz pro Partridge. E ei, é isso: Acabei de trazer um homem em contato com o mundo real de novo. Toma essa, insignificância do universo!
Caso contrário, essa gravação serve como minhas últimas palavras, ou algo do tipo... Vou sentir saudades de vocês. Quer dizer, não vou. Vou estar morta, e não vou ter a capacidade de sentir saudade das coisas, mas sabem o que quero dizer. Whickman, sinto muito pela bagunça de que você ter que cuidar. Se bem que vai ficar com minhas fitas e invenções, então talvez não seja tão mal, no fim. E Esther, vou te deixar meu... quer saber? Já que provavelmente vou morrer aqui, vou pular esse testamento esquisito todo e deixar vocês lutarem pelas minhas coisas, poucas como são. Partridge, se eu não ligar o transceptor antes de... [pop] sinto muito, não vai poder contatar o lado de fora. Se bem que o mais provável é que vocês nunca ouçam isso, então essa mensagem é basicamente inútil em todos os sentidos. Bom saber que os meus últimos desejos não importam. Toma essa, insignificância do universo...
Vou deixar o gravador no chão. Vejo vocês depois.
[Sally coloca gravador no chão]
SG: Ooook. OK, OK, OK. ‘Tá tudo bem.
[Sally escala a antena, escorrega, quase caí, volta a escalar, prende o aparelho, volta ao chão]
SG: Ha! Mamão com açúcar!
[rádio sintonizando; Esther faz uma ligação em uma cabine telefônica]
ER: Hm, alô, posso falar com Bridget Dreyfuss? ... Bridge? Ei, é... é a Ettie Roberts. É, sou eu. Eu sei, faz muito tempo. Eu estava na cidade, e ouvi que você está trabalhando na Biblioteca Pública de Nova York. Quer colocar a conversa em dia? Devo um drink a você. Encontre-me no ██████ às oito. Vejo você lá, Bridget.
[Esther desliga; rádio sintonizando]
ER: Uma gin tônica, por favor.
Bartender: É para já.
ER: Bridget! Você veio!
BRIDGET CHAMBERS (BC): Meu Deus, deve ter…
ER: Não faça as contas, vão deprimir você.
BC: Não faço, é por isso que fiquei nas artes liberais.
ER: Eu estava vindo para Nova York, e o boletim informativo estudantil disse que você ainda estava por aqui! Não podia perder a chance de me encontrar com a incomparável Bridget Dreyfuss.
BC: Chambers, na verdade. Eu casei.
ER: Eu sei, eu ouvi, isso é tão... Como isso funciona?
BC: Ted e eu encaramos os problemas da vida juntos– dos quais há muitos– mas nós, sabe... temos nossos próprios interesses. Ajuda que temos uma mentalidade parecida.
ER: Isso foi uma metáfora para…?
BC: Sim, foi uma metáfora.
ER: Deus, nós duas fomos tão longe. Você se casou, eu terminei a pós-graduação...
BC: Sim, sobre isso! O que traz você aqui?
ER: Trabalho. Tive que ir a algumas reuniões.
BC: O que você faz, aliás? Ouvi que depois de terminar a pós, você foi para o oeste.
ER: Oh, suponho que a verdade está por aí.
BC: Então não vai dizer...
ER: O governo. Trabalho para o governo.
BC: Com ciência? Espera, você era uma das pessoas trabalhando na bomba?
ER: [ri] Não, não era!
BC: Sim, era sim! Você trabalhou na bomba!
ER: Não é isso!
BC: Seu segredo está seguro comigo. Eu sempre soube que sua genialidade levaria você a grandes alturas.
ER: OK, você me pegou. Não conte para ninguém.
[fita acelera]
ER: [ri] E a Cynthia nunca soube!
BC: Ela nunca descobriu?
ER: Sempre que ela me perguntava aonde estava indo, eu só falava que ia para a biblioteca.
BC: Você ficava na biblioteca por dias!
ER: Você lembra o quanto eu estudava?
BC: Só não consigo acreditar que você ficou falida fazendo apostas em Atlantic City e sua própria colega de quarto nunca soube!
ER: Era mais fácil do que trabalhar em um bar como este.
BC: Olha só, trabalhar n’O Sidecar pagava as contas. E, além disso, eu não teria conhecido você.
ER: Você podia ter me conhecido na aula do Professor Simpson.
BC: Ah, eu tinha medo. Mas, quando entrou no bar, estava no meu domínio.
ER: Fico feliz que entrei. Tudo era diferente na faculdade. Era Bridget e Ettie contra O Mundo. Tudo parecia mais... brilhante, sabe?
BC: … Era o delírio de trabalhar setenta horas por dia.
ER: Então, está trabalhando na biblioteca da cidade agora? É o que dizia no boletim estudantil.
BC: Trabalho de arquivista para eles. O acervo de Lenox descobriu uma grande coleção de livros raros que deveria estar conosco, mas ninguém sabe o que tem nela–
ER: Então chamaram a melhor biblio-antropologista americana deste lado do Mississippi?
BC: Sempre fazendo charme, Ettie…
ER: Culpada, culpada.
BC: Então, abriram uma casa no Queens e a encheram de pilha sobre pilha de textos desorganizados. Vai levar séculos para adicioná-los devidamente à coleção principal.
ER: Anda bem ocupada, então.
BC: Mantém minha atenção.
ER: Esse costumava ser o meu trabalho.
[rádio sintonizando; Bridget recuperando o fôlego]
BC: … Uou, isso foi bastante. Preciso de um...
[Bridget pega um cigarro e um isqueiro; acende o cigarro]
BC: Cigarro?
ER: A-hã.
[Bridget acende um para Esther]
ER: Oh, muito obrigada.
BC: Então não se importaria se eu começasse a chamar você de “a HG Wells feminina”?
ER: Eu me importaria muito se você começasse a me chamar de “a HG Wells feminina”.
BC: Sabe, eu me senti tão esclarecida quando me disse que eu tinha descoberto o que você faz, Ettie.
ER: Mesmo? E agora, o que acha?
BC: Que o buraco é mais fundo do que jamais imaginei. Pensei que a bomba era loucura...
ER: Uma curiosidade, Bridget: Eu sou uma das mulheres mais ponderosas no governo dos Estados Unidos.
BG: Fala sério! Eu sempre soube que você era destinada a grandes coisas.
ER: O que aconteceu conosco, hein? Pensei que tínhamos algo especial.
BC: Não, Ettie. Poupe-me, OK? Isso é bom, só deixe estar.
ER: Sinto que depois que fui para a pós-graduação, você nunca ligou ou escreveu. Nós só... nos afastamos.
BC: É assim que você se lembra?
ER: Quer dizer, lembro que as coisas ficaram um pouco feias, mas foi há mais de dez anos.
BC: Eu fiquei magoada, e você não ligou.
ER: Eu liguei! O que nós tínhamos importava muito para mim!
BC: Você está… Você disse que eu era um “fardo” para você!
ER: Meu Deus, Bridget, eu nunca pensei isso de você. Eu... Eu disse muitas coisas terríveis naquela época!
BC: Tudo bem, eu aceitei o que aconteceu. Fiquei aliviada em ouvi-lo.
ER: Como assim?
BC: Você não ia desistir da sua vida só para viver uma fantasia juvenil. O que íamos fazer, comprar um apartamento e dizer a todo mundo que éramos simplesmente “sem sorte no amor”? Esther, fiquei aliviada porque você estava livre para não se importar comigo, e eu finalmente estava fora da sua sombra.
ER: É a primeira vez que estou ouvindo isso.
BC: Você estava lá! Ettie, você é um amor, mas só porque sente que precisa ser.
ER: Não sei que tipo de pessoa você pensa que eu sou, mas–
BC: Eu sei do que me lembro. Você gosta de pensar que é sempre a boa garota, mas... não acho que vê como machuca as pessoas.
ER: Eu dediquei minha vida a ajudar as pessoas. Meu trabalho–
BC: Seu trabalho presta serviço a mesma tautologia belicista que vai empurrar nós e os soviéticos à aniquilação nuclear.
ER: Que progressivo da sua parte. Talvez você possa convencer o senador de Wisconsin a mudar de decisão.
BC: Ettie, não é que você seja má pessoa. É que sua ambição lhe impede de estar emocionalmente disponível.
ER: Bridget, não acredito que você pensa tão mal de mim!
BC: Eu não penso mal de você! Só sou realista. Sei quem você é, e que não vai mudar, e tudo bem. Mas isso significa que nunca terei você.
ER: Sabe, esta não era só uma visita social. Precisamos de alguém na minha organização. Alguém com suas habilidades–
BC: Está falando sério?
ER: Bridget, seu conhecimento sobre o inconsciente coletivo americano é incomparável. Precisamos de alguém como você, que pode acompanhar e planejar possíveis resultados para quando alteramos as coisas.
BC: Não.
ER: É isso, só “não”? A oportunidade de uma vida, e só “não”?
BC: Sim! Não! Quer dizer– Ettie, não vou trabalhar para você!
ER: Mas por quê?
BC: Porque– Fala sério, que merda foi tudo isso? Você me liga do nada, age como se tudo estivesse tudo bem e então, de algum jeito, acabamos na minha cama? E aí você me diz que era tudo por causa de um emprego? Por que não para de fazer isso comigo?! Pensei que estava livre dos seus malditos joguinhos.
ER: Bridget, eu...
BC: Pegue suas roupas e saia, Ettie.
[Esther recolhe as roupas dela]
ER: Foi… Foi muito bom ver você, Bridget.
BC: Só vá embora.
[Esther sai]
BC:[suspiro] Certo, ela foi embora. Vou editar fora a primeira parte para fins de preservação da decência... mas você estava certo. Ela queria me recrutar. Quando recolher as fitas amanhã, deixe um sinal se quiser que eu siga a acompanhante dela também. Sinto muito ter duvidado de você █████. Conversamos em breve.
[rádio sintonizando; o estaleiro; Sally disca em um telefone público; ele toca]
SG: Aqui vamos nós… Oi. Sou eu. Funcionou, acho. Caso contrário, você não vai ouvir isso. Talvez o som esteja ruim. Não sei. O número desse telefone é 215-█████. Me liga de volta.
[Sally desliga; o telefone toca; estática na linha]
AP: Funcionou, Sally. Tudo bem.[funga] Estou bem. Obrigado. É só que… sua voz é a primeira voz que ouço sem ser a minha em tanto, tanto tempo. Acabei de ouvir sua mensagem três vezes seguidas! Obrigado mesmo.
[gravação termina; Sally desliga]
SG: Consegui! Consegui! Tem tanto tempo que algo não dá certo. Tanto tempo que não faço algo que não termina em desastre!
Dá pra ver a doca onde o Eldridge ficava daqui. ‘Tá com a mesma aparência de sempre. Não daria pra saber que foi onde comecei minha nova vida aqui. É onde tudo começou. Bom, começou no meu laboratório, mas tanto faz. Nossa língua não foi feita pra isso! A última vez que estive na doca 47, estava quebrada, delirante e tinha 273 e-mails não lidos. Agora não tenho nenhuma dessas coisas.
Você acha que alguém se lembra? Acha que alguém sabe que hoje é o sexto aniversário de tudo isso? Faz seis anos desde que renasci na Filadélfia, e ninguém liga! Cadê meu bolo? Cadê minha festa?
[splash]
SG: Mas o que… alguém acabou de cair na água!
[gravador de fita desliga]
ars PARADOXICA é criado por Daniel Manning e Mischa Stanton.
Episódio 13: Sinal características -
Kristen DiMercurio (Sally Grissom)
Katie Speed (Esther Roberts)
Robin Gabrielli (Anthony Partridge)
Rebekah Allen (Bridget Chambers)
Zak Stevens, Amanda Bailey, Brock Bivens (vozes adicionais)
com agradecimentos especiais a Isabel Atkinson
Música original de Mischa Stanton e Eno Freedman-Brodmann.
07 25 19 | 11 15 05 10 | 24 15 08 15 | 22 24 26 04 06 12 11 14 22 02 | 15 12 08 22 05 | 04 17 26 15 25 01 04
WEATHER: showers